quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mastros

Mastros Populares


Mastros Santos e Populares Junho, mês dos Santos Populares, a tríade Santo António, São João e São Pedro, e nós quase nem demos por isso. E quase nem demos por isso porque os folguedos populares com que se cultuavam os ditos quase não existiram. A forma tradicional de cultuar estes santos era através dos bailaricos que se celebravam em torno de um mastro e se mastros houveram, erguidos em bairros de cariz mais popular, tão discretos foram os folguedos em torno deles celebrados que passaram despercebidos.Estranha forma esta de prestar culto a tão dignos e veneráveis membros da hagiologia católica, práticas cultuais que só podiam passar por licenciosas aos olhos da severa moral cristã. E os ritos celebrados em torno de um símbolo fálico, que é exactamente aquilo que o mastro representa, tantas voltas levaram que vieram a descambar num mais aceitável culto a uma trindade de santos apelidados de populares.Anos há, e não muitos, em que os mastros animavam as noites quentes de Junho e as comissões de rua e de bairro, espontaneamente criadas, rivalizavam no erguer do mastro mais catita. Depois, bem depois estas festividades foram perdendo fôlego, novos hábitos surgiram, os mastros populares concedendo subsídios às comissões promotoras e atribuindo prémios aos melhores. Eram animados por conjuntos musicais e dançava-se ao som de, imagine-se, muitas, à luz de um lampião a petróleo, dançavam ao som das modas que eles próprios cantavam: "Quem anda no meio é bem bonitinho, para namorar tem todo o jeitinho..."
Hoje em dia, e com a evolução dos tempos dança-se ao som de CDs ou com um organista. Os mastros houve dias, em que não se faziam com tanta intensidade quando da guerra colonial, pois havia poucas famílias que não tinham alguns dos seus familiares na guerra. Era uso em tempos que já la vão as “moças” que tinham namorado e as que não tinham fazerem-se acompanhar por uma mulher casada. Só iam aos mastros se fossem acompanhadas.
Só assim se vê a evolução dos tempos, que os mastros hoje em dia não são para a juventude, que para eles há outras ”cenas” para se divertirem.
Parece vivermos num portal da História, em tempos que já não são mas cujo rosto futuro não nos é ainda perceptível. A caminhada iniciada com a revolução neolítica estará a chegar ao fim. Que nos sintamos privilegiados por vivermos estes tempos e não nostálgicos por um tempo que se foi e não regressará. Ergamos a taça aos tempos vindouros.



Deixo-vos aqui algumas das quadras que os pares cantavam, e que por vezes eram a despique, dando por muitas vezes em conflitos.


Tenho corrido mil terras
Cidades mais de quarenta
Tenho visto caras lindas
Só a tua me contenta.

Limão é fruto azedo
Que do verde-escuro nasce
Eu não deixo o meu amor
Por muitas penas que eu passe.

Ó amor paga a quem deves
Que a mim não deves nada
Só me deves a amizade
Que é coisa que se não paga.

Valha-me santa Vitória
Que é a mãe de São Joaquim
Eu a fugir da desgraça
E ela sempre a traz de mim.


E a Despique
Ele:
Ó alta serra de neve
De onde o penedo caiu
Ninguém afirme o que não sabe
Nem diga o que não viu.
.
Ela:
Tenho ouvidos não oiço
Tenho boca e não falo
Tenho para dizer e não digo.
Por minha honra me calo

Ela:
Coitado de quem é “nesso”
Todo o mal contigo tem
Em vendo rir e cantar
Julgam logo que lhe querem bem.

Ele:
Tu chamaste-me a mim “nesso”
E eu por mim reconheço
Deita-te aos pés da minha cama
E verás onde eu amanheço.


Cantiga para um sapateiro.


Ela:
Faça lá esse sapato
Dai-o a quem quiser
Que maricas como você
Não merecem ter mulher.

Ele:
Mais valia ser um burro
Tar bebendo num chafariz
Que tar ouvindo razões
Que esta porca me diz.

Os três Santos Populares

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